o cão constante

Sem título número cinco

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Esperei pelo amolador para afiar a minha navalha, que a vareta não tinha arranjo, e com a primeira irei cortar-te o pescoço que vou apertar entre o meu punho cerrado, um lanho rente aos nós dos dedos que te chocalham o corpo que se pendura e baloiça ao ritmo da gaita do amolador que calca as ruas em busca de clientela. Quero sentir a vibração dos tantos ossos que se irão quebrar quando vergar esse fino pescoço antes do reluzir da navalha cintilar nos teus olhos melosos que clamam uma qualquer hipótese, um qualquer acordo, algo que não a morte, que não a morte assim declarada. Lamento mas não existe outra escolha, outra sentença que te possa oferecer. Lamento. Imenso. Sempre soubeste que não viverias para veres os teus filhos crescerem. Aliás, os teus filhos, admito, fui eu que tos retirei, ainda embriões ou menos. Nenhum filho teu nasceu ao mundo, nenhum filho teu deixará prole, nenhum filho teu comeu sequer um único grão que a terra oferece e nenhum dos teus potenciais filhos irá viver uma morte como a tua. Um sacrifício anterior à própria existência para lhes poupar no sofrimento. O que não posso fazer por ti, como já te disse. Pára. Não estrebuches mais. Vamos avançar. O término apresenta-se. Anda. Anda aqui ver a minha linda navalha que depois de te abrir a goela, e decapitada rodopiares pela horta feita tonta, ainda me resta depenar-te.

Written by Luís Miguel Martins

Sábado, 4 Dezembro, 2010 às 05:47

Publicado em Textos

4 Respostas

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  1. Boa! Eu a pensar que te tinhas tornado num psicopata amador e no final…bem, os vegetarianos continuarão a achar-te um psicopata, claro! Eheheh. Muito giro.

    Lu

    Domingo, 5 Dezembro, 2010 at 13:58

  2. Realmente… Fantástico!! Parabens!

    Mara Lisa

    Sábado, 12 Fevereiro, 2011 at 00:45

  3. ….ups……afinal trata-se de uma galinha!!!! continua Miguel…adorei!!!

    Um beijinho

    africaminha

    Quinta-feira, 17 Fevereiro, 2011 at 19:08


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